A parte boa do seu dia

Eliane Santana (Elyninphadora)
3 min readDec 26, 2019

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— Sexta-feira, 18 horas em São Paulo. Sextou!!!!

- Como é?

- Chegou o melhor dia da semana.

- Por que?

- Porque depois é sábado, dia de balada, de ficar, de beber, de dar ‘pt’ e tudo mais…

Esse foi o breve diálogo entre duas pessoas dentro de um desses ônibus da vida, lotado, cheio de gente cansada, perdida, ansiosa pelo final de semana, porque não consegue viver consigo mesma e nem tampouco consegue sair dessa situação pavorosa da espera por coisas fúteis que, dificilmente, vão trazer essa paz que se procura fora e, que eu aprendi que está apenas dentro.

Dentro do que? De tudo aquilo que você costuma ignorar: seus sentimentos.

Calma. Não estou aqui para te julgar nem coisa do tipo; mas, queria sua ajuda para refletir sobre o que é a parte boa do seu dia.

Particularmente, eu era uma pessoa que sentia as coisas sempre de maneira diferente, porque para mim, tudo estava certo de acordo com as circunstâncias.

Nunca acreditei que ser uma pessoa ‘desencaixada’ de quem eu era, poderia me trazer algum benefício, e assim eu cresci. E como foi bom crescer assim: sem esquecer de me perceber e sem deixar de notar quem estava ao meu lado, conhecido ou não.

E, quando alguém fala que a única boa parte da vida é a sexta-feira, eu fico imaginando como deve ser ruim a vida desse indivíduo. Como deve ser pesado viver esperando chegar um momento que você simplesmente não consegue controlar, porque ninguém controla aquilo que o tempo é, porque quando tentamos controlar o tempo, ele voa e muitas vezes, nos deixa na mão. Tão na mão que reclamamos veementemente porque não deu tempo de fazer nada. É culpa do tempo ou nossa?

Não foi o tempo que me tirou o foco; foi o meu celular. Não foi o tempo que tirou meu sono; foi a TV enquanto eu assistia. Não foi o tempo que tirou minha energia para viver: foram as tantas e tantas coisas com as quais me envolvo sem planejamento e nem preparação, e ainda xingo porque não dei conta de tudo o que me propus a fazer. Ou seja, o tempo ou o Tempo é o que é; e nós? O que somos nessas idas e vindas de nossa história?

Então, ao meu ver, eu assumo um compromisso muito sério quando julgo que apenas um dia de todas as cinquenta e duas semanas em cada ano é importante para mim, porque marca o momento em que me liberto da escravidão do trabalho e posso, finalmente, ser eu mesmo. Por que é muito sério? Simples: porque estou colocando nos planos de outro alguém — que não sou eu — a minha felicidade e o meu verdadeiro ser.

- Como assim?

Estou jogando para um ser maior que a minha vida se torne maravilhosa, quando eu crio um único motivo para estar bem que é a sexta-feira. E todos os outros dias da semana? Quem sou eu? O que faço? Como vivo? Ou não vivo?

Fico verdadeiramente incomodada em ouvir que só há uma parte boa da vida que são as sextas — feiras, quando temos o tempo a nosso favor e, no entanto, estamos tão condicionados à espera de um milagre que nos tornamos incapazes de apreciar o nosso próprio milagre: esse encantamento e essa harmonia perfeitos que os dias nos oferecem.

Não somos limitados; somos limitantes: quando não ouço a singeleza de um pássaro que canta. Quando não enxergo as cores dos meus melhores sentimentos. Quando sou incapaz de me alegrar pela felicidade de outrem. Quando só percebo aquilo que me trará algum benefício, ao invés de procurar beneficiar alguém.

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