Fixação

Eliane Santana (Elyninphadora)
2 min readJul 29, 2020

--

Ultimamente, temos falado tanto e tão pouco sobre nós… Isso é quase um desabafo de quem anda obsediado pelo saber que nunca sabe e que nunca acaba.

As janelas de minha casa permanecem abertas inclusive durante a noite, mas teimam em não deixar a luz entrar, porque esse saber fixado na mente não depende de dia ou noite; nem de lua e sol. Ele é simplesmente! Filosofia barata: vão dizer. Sim, talvez concorde. Mas, lá nos umbrais do inconsciente meu algoz vem buscar-me um pouco mais a cada dia, e para isso não importa se dá sombra ou luz porque tudo é único, basta que ele saiba onde estou.

No alcance desse além não existe limite nem perspectiva; eu sou o que sou e é isto! E sigo, fixado naquele quadro psíquico, quase esquizofrênico de quem espera com os olhos presos à janela como se se desfizesse do mundo na tentativa de sentir alguma esperança de transformação. Partícula de vida na estrada escura de quem aguarda, guardando embaixo do braço palavras de consolação numa metáfora ininteligível que se espalha em ondas invisíveis, intangíveis cuja sensação na pele enrugada traz imensa vontade de… Decifra-me ou te devoro!

Só então percebo que minhas janelas estão em desuso! Não há luminescência; o que há é possibilidade. Eu sou possível! Eu estou vivendo dentro, mas o fora me arrasta para aquilo que me fixa em dor aguda e tristeza.

Volto para minha casa. Fecho as janelas; minha alma está seca como a planta que deixei de regar por medo da chuva. Contemplo a porta ao sabor do vento como quem só percebe que a força que ampara é a mesma que te encolhe, enquanto o uivo do vento pela fresta entra e sai com um zunido de solidão.

Fixação dos pés na chamada realidade; mas, não sou consciente de mim para viver realisticamente. Vivo numa película de cinema mudo que se repete indefinidamente porque sou definida como ser humano, mas me nego. Não quero ser, não quero ter! Quero! E quem não quer? Você sabe o que quer? Brincadeira de querer: mal e bem — puxo as pétalas que renascem e não me deixam morrer.

--

--

No responses yet