Porto seguro
Porto seguro: assim é minha casa desde que me entendo por gente. Um lugar de paz, de aconchego e de luz, mesmo quando tem aquele monte de pessoas transitando, falando alto — às vezes, me incomoda, mas com tanta gente junta é normal que isso aconteça de vez em quando.
Algumas coisas mudaram bastante nesse período de quarentena, mas a paixão pela minha casa só aumentou: tenho mais tempo para meus filhos e meus pais, e só para eles. Não preciso dividí-los com tantas pessoas que os amam tanto quanto eu — menina egoísta que sou! Sei que muitos vão dizer, mas que fazer se todos querem compartilhar da presença de pessoas incríveis?!
Na minha casa, há pessoas assim: solidárias, fraternas e amigas.
— — Mas, vocês não brigam?
— — Ah, sim, quem é que não briga. Mas, são questõezinhas, muitas vezes, sem importância, que passam e que se esquecem, sabe. Diferente dos meus vizinhos que brigam de sair nos tapas… Ouvimos os tabefes, chutes e coisas quebrando! É terrível! Imagino o quanto deva ser altamente difícil conviver em ambientes assim.
Compreender os pontos de vista divergentes não é tarefa simples, mas especialmente, nesse cenário de isolamento social é uma dádiva à qual podemos nos apegar e — quem sabe — expandir nossa consciência de conviver entre diversos.
Pensando bem: acho que temos aqui uma oportunidade de aprofundar nosso conceito de diversidade. Diversidade não é só aquela que temos em sociedade; nossa primeira pequena sociedade é a Família e, nosso primeiro singelo espaço é a Casa — sim, com letras maiúsculas, afinal são partes de nós tanto quanto nosso coração e nosso cérebro.
Se nos falta um dos dois, como podemos nos virar? É uma morte em vida; é uma perda que, a maioria de nós, só será capaz de analisar quando acontecer. A verdade é que pode ser tarde demais para remediar o que não tem remédio.
Por isso, mantenho minha Casa como um templo, uma igreja, um local sagrado, onde a poesia da vida se renova; onde transmuto pensamentos negativos em sentimentos de pertencimento alegre, simples e criativo com pessoas que sei que estarão lá por mim, tanto quanto sei que eu estarei lá por elas.
— — Ah, que lindo!
— — Não amigo, não é lindo. É simplesmente consciência do Amor que recebo e do Amor que sou capaz de distribuir. Que extrapola minhas vivências e que distribuo para todos, dentro e fora da quarentena. Dentro e fora de minha casa.