Professores Mundanos
Artérias. Vias. Caminhos.
O bairro onde moro há muitas dessas ruas que seguimos ou não, por onde passamos ou por onde ignoramos a própria vida perdidos em pensamentos, muitas vezes, distantes do próprio ser que habitamos porque necessitamos esquecer.
Aqui nessa vizinhança que não conheço e que pouco sabe de mim, escrevo sozinha olhando os pássaros pelas árvores medianas das praças que são ponto de encontro ou referências das tantas casas onde habitam corpos que nem quero conhecer porque não são.
O mais curioso de tudo isso não são em si esses corpos — alguns mortos, inclusive — que já fazem ou fizeram parte da paisagem; nem os que ainda respiram, mas não têm certeza se realmente vivem. O mais curioso desse cenário são os nomes das ruas: há um complô entre esses ilustres seres que já foram — são em alguma lembrança perdida de entes queridos, com certeza, mas não nas minhas. Uma greve: sim, uma greve, de professores! Caminham juntos e fazem caminhar em suas ideias as pessoas do bairro, todos os dias.
Professor Nicolau. Professor Rodolpho. Professor Álvaro: ideias e ideais que mereceram tais nomenclaturas. Teriam sido felizes? Participaram de alguma greve? Marcaram seus alunos com amor ou com palmatória? Inspiraram? Aspiraram a ser nome de rua, algum dia? Cidadãos de bem? Professores que giraram em torno de um mundo. De uma leitura de mundo: cruel, desigual ou daqueles mundos possíveis de Paulo Freire?
Mundanos — lendo a vida pelos olhos de uma esperança. A esperança ateia da igualdade entre os homens. Professores livres de suas salas de aula, ao balançar das palavras no vento das mudanças que provocam em mentes desejosas de liberdade. Poesia, prosa, comédia da vida privada e da escola pública onde somos doutrinadores de campos. Professores que observam a grama que cresce mais verde no vizinho privilegiado pelo capital…
Comunistas! Mais cego é aquele que não quer ver. Professores não são homenagens, nem tão pouco delas precisam. Professores do mundo são baobás seculares com raízes tão profundas quanto os sentimentos que semeiam nos corações de todos aqueles que têm coragem de sonhar com dias mais abastados, não apenas melhores. Com dias enormes como a fundura de um universo de matéria escura que é luz ao quadrado numa parábola infinita chamada tempo.